7 MANDAMENTOS DA

EXTREMA-DIREITA

AS REGRAS DE OURO DA ATUAÇÃO DA EXTREMA-DIREITA ONLINE

O QUE SÃO OS MANDAMENTOS?

A extrema-direita, voluntária ou involuntariamente, de forma coordenada ou orgânica, segue um padrão tão claro de atuação online que podemos chamá-los de mandamentos.  

Esses mandamentos, entretanto, não foram criados por eles e muito menos são praticados apenas por eles — são um conjunto de estratégias retóricas e de manipulação amplamente utilizadas na política — mas aparecem de forma tão disciplinada nas ações da militância digital de extrema-direita que precisam receber uma atenção especial. 

A gente acredita que entender e reconhecer esse modus operandi é o primeiro passo para que o campo democrata (e não apenas os progressistas) possa fazer frente à ofensiva autoritária que segue avançando no Brasil e no mundo.

ASSINE NOSSA NEWS

FAÇA PARTE DA VANGUARDA DA COMUNICAÇÃO PROGRESSISTA

NO BRASIL E NO MUNDO

ASSINE NOSSA NEWS ✦ FAÇA PARTE DA VANGUARDA DA COMUNICAÇÃO PROGRESSISTA ✦ NO BRASIL E NO MUNDO ✦



ASSINE A NEWS

OS MANDAMENTOS

1

Não jogue na defesa

Imagine que você está assistindo a um jogo de futebol e o seu time não fez nenhum gol, mas ataca sempre que pode e não perde a posse da bola. Se a partida acabar em 0 x 0, não parece que vocês se saíram melhor?

A percepção do público, no final das contas, é tudo o que importa. Isso porque ninguém vai lembrar de quanto os outros jogadores batalharam na defesa, mas lembrarão do ataque incansável que era constante e só não pontuou por detalhes que podem ser melhorados.

Quando pensamos em discussões na internet, o princípio segue o mesmo. Os militantes da extrema-direita sabem que, sempre que fazem acusações absurdas, vai aparece um punhado de pessoas querendo defender o acusado ou desmentir a denúncia. 

Nessa perspectiva, Quem ataca não está muito preocupado com a veracidade dos fatos ou com quão justos e ponderados são os argumentos. Na batalha da opinião pública na internet, quem ataca quer antes de tudo colocar os opositores na defensiva, porque estar na defensiva já é perder. 

Como ensinava o ícone conservador Ronald Reagan: “Se você está explicando, você está perdendo”.

2

Não use eufemismos

Eufemismos são recursos linguísticos que eram muito utilizados na política como a conhecíamos, dez ou quinze anos atrás. Era uma maneira de moderar acusações e muitas vezes de mascarar preconceitos. Era uma figura de linguagem muito comum em debates e campanhas eleitorais, por exemplo.

Podemos especular sobre a causa mortis, mas a real é que esse recurso morreu. 

A moda agora é falar o que pensa. Ter a coragem para dizer as coisas como elas são. Foi isso que fez com que muita gente visse aquele capitão lá no Superpop e falasse: "está aí, esse cara me representa!" 

O "veja bem, na ditadura militar não foi tão ruim assim, o país avançou nisso, nisso e naquilo" virou "eu defendo a tortura". O "olha, preferiria que meu filho não fosse homossexual" virou "prefiro filho morto em acidente a um homossexual". O “homens são mais racionais” virou “mulheres são sempre histéricas” e assim por diante.

3

Controle a conversa

Quando discutimos com alguém, partimos do pressuposto que o objetivo é chegar à verdade ou a um consenso entre as duas partes, mas essa é uma visão iluminista demais. 

Para a extrema-direita, o debate é uma chance de demonstrar força, clareza e convicção. Mas eles não conseguem fazer isso em assuntos que sabem que estão perdidos. Por isso, a forma como militantes da extrema-direita mudam de assunto durante uma discussão online não é coincidência, é um método.

Por exemplo: alguém afirma que Jair Bolsonaro é misógino e apresentam múltiplos fatos que comprovam isso, aí vem o militante da extrema-direita e posta uma declaração da Michelle Bolsonaro dizendo que ele é um excelente marido. A conversa saiu de um assunto no qual eles estavam na defensiva para um muito mais complexo (é complicado explicar como a misoginia funciona e por que um homem em um relacionamento heterossexual ainda pode ser misógino), o que coloca o acusador inicial numa posição de explicação e “se você está explicando, você está perdendo”.

A chave deles é mudar a direção e fazer com que a gente se perca na complexidade dos assuntos, porque, no final das contas, eles vendem assertividade melhor do que vendemos fatos.

4

Aponte contradições

Você não precisa estar certo, basta que seu adversário esteja errado. 

Vale muito mais investir o seu tempo em minar a credibilidade do seu opositor, do que consumir tempo construindo a legitimidade e a fundamentação das suas causas ou candidatos. E para minar a credibilidade do seu opositor, você não precisa confrontá-lo, não precisa responder a seus argumentos ou questionar suas causas, basta ficar atento para pegá-los em contradição. 

Você não precisa tentar se contrapor a uma denúncia social foda do Emicida, basta mostrar que aquele cara que é antissistema já fez campanha pra bancos. Você não precisa entrar nos argumentos do porquê o lockdown era uma resposta ruim a covid-19, basta trazer a notícia de que Luciano Huck foi "flagrado" na praia durante a pandemia. Você não precisa entrar na discussão sobre a defesa que o Felipe Neto faz de regulação de redes sociais, basta resgatar um vídeo de quando Felipe Neto defendia o impeachment da Dilma.

5

Empurre a janela do aceitável

Existe um conceito dentro da teoria política conhecido como Janela de Overton. Basicamente, trata-se de um modelo que descreve que dentro do universo infinito de ideais, existe uma janela daquilo que pode ser considerado aceitável em um determinado momento histórico. 

Esse conceito sugere que as ideias podem se mover ao longo de uma escala de aceitabilidade, que varia de "impensável" a "normal". O que a extrema-direita vem fazendo com esse conceito é uma estratégia - que parece esdrúxula, mas é muito sofisticada - de empurrar ao máximo a largura dessa janela.

O que eles fazem é introduzir ideias cada vez mais extremadas (cof, cof… PL do Estupro), completamente fora da janela de aceitabilidade, como uma forma de fazer ideias ligeiramente menos extremas soarem mais razoáveis aos olhos do público. 

Forçar as pessoas a considerarem uma ideia impensável (de tão extrema), mesmo que elas a rejeitem, faz com que todas as ideias um pouco menos radicais pareçam aceitáveis em comparação. 

Nos EUA de algumas décadas atrás, a ideia de banir a entrada de todo e qualquer imigrante era considerada impensável, mas a extrema-direita introduziu essa ideia com tamanha constância, que o debate público hoje em torno de imigração tende a ser muito mais restritivo - inclusive entre os democratas.

6

Construa uma nova mídia

"Esqueça o Partido Democrata. O verdadeiro inimigo é a mídia." 

Essa declaração de guerra aí é de Steve Bannon, o articulador/pretenso guru da nova internacional extremista. 

O que parece só mais uma teoria da conspiração, na verdade, é a síntese do tipo de aparato que a extrema-direita global vem construindo para sua batalha política. 

Se você olha para a cena da sociedade civil brasileira, por exemplo, você vai encontrar grandes e incríveis organizações especialistas em agendas fundamentais para o país: segurança, justiça racial, educação, saúde… a lista segue. Agora, se você olhar para o ecossistema da extrema-direita, você pode até encontrar um think tank ou outro mas a maior parte dele está concentrada em organizações de comunicação. Brasil Paralelo, Revista Oeste, Jornal da Cidade Online, Destra, Terça Livre, Epoch Times… A extrema-direita prioriza comunicação, prioriza a luta pelos corações e mentes. 

O principal inimigo deles é a mídia tradicional, e não as ONGs e - acreditem - nem mesmo o PT. 

Se tem alguém que leu Gramsci, não parece que é o campo progressista.

7

Repita mantras

“Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade" é o que dizia um tal de Joseph Goebbels. O marqueteiro do nazismo - aquele que foi imitado pelo ex-secretário da Cultura do Bolsonaro, lembra? - deu a letra já faz quase 100 anos.

Emplacar mantras e apelidos têm sido a tônica da extrema-direita na internet. Desde hashtags como #OlavoTemRazão, até a tese mil vezes refutada de que Adélio Bispo era um agente da esquerda ou mesmo a teoria que as urnas eletrônicas são fraudadas.

A extrema-direita não perde muito tempo construindo novos argumentos. Eles vêm aquilo que funciona para o público deles e o que fazem é repetir isso à exaustão. Ditadura do STF, Mito, o fantasma do comunismo… 

Além de funcionar, esses mantras são cartas mágicas facilmente acessíveis em qualquer discussão. Se o militante se vê sem resposta diante de uma fala da Daniela Lima, ele não precisa contra-argumentar, é só lançar mão de um #GloboLixo e seguir em frente.