LAÇOS FORTES

E LAÇOS FRACOS

Ideias novas circulam melhor entre conhecidos do que entre amigos e contatos mais próximos

A tese

Em 1973, o sociólogo Mark Granovetter, da Universidade de Stanford, publicou um estudo transformador sobre o impacto e influência dos diferentes tipos de relações sociais nas nossas vidas. Esse paper, que se tornou um clássico na literatura científica de ciências sociais e já obteve mais de 70 mil citações em diferentes disciplinas, tem insights fundamentais para entender como consideramos nossas ideias, mudamos de opinião, influenciamos e somos influenciados - e, por isso, é o tema do Persuasão de hoje.

Chamado de "The strength of weak ties" ("A força dos ‘laços fracos’", em tradução livre) o estudo entrevistou 282 homens nos Estados Unidos e levou Granovetter a dividir nossas relações sociais em dois grupos: o das pessoas mais próximas, ou laços fortes, que são aquelas com quem temos contato mais constante e mais intimidade e proximidade; e um círculo mais distante, geralmente mais amplo, formados por conhecidos - e que ele chamou de “weak ties”, algo como “laços fracos”.

A descoberta central da pesquisa conduzida por Granovetter é que, quando se trata de tomar contato e considerar novas informações e novas ideias, nosso círculo de relações mais casuais e distantes é muito mais relevante do que nosso círculo mais próximo de relacionamento.

Ele hipotetizou que a razão é que as pessoas com quem a gente se relaciona de maneira mais frequente e próxima estão inseridas na mesma bolha informacional que você, o que significa que dependemos daqueles que pertencem a outras bolhas informacionais pra nos trazer - e levar adiante - novas oportunidades, ideias que não consideramos e informações com as quais não entraremos em contato de outra maneira.

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Aplicando a Teoria dos Laços na estratégia de comunicação e mobilização

A essa altura, você já provavelmente percebeu que essa descoberta conversa diretamente como a chave para o mistério de “como furar a bolha”, ou seja, como fazer com que agendas ou ideias que estão circunscritas a um grupo social específico penetrem essa barreira e sejam consideradas e assimiladas por outras bolhas.

A pesquisadora brasileira Dora Kaufman, da PUC-SP, publicou em 2012 um artigo que correlaciona o estudo de Granovetter às dinâmicas relacionais na internet e nas redes sociais que nos ajudam a trazer os insights da pesquisa de 1970 para o contexto das redes sociais.

Como é uma rede de laços fortes

  • Abundância de redundância social com cada pessoa conectada a amigos de amigos;

  • Confiança e intimidade;

  • Uma base para cooperação, solidariedade e ação.

Como é uma rede de laços fracos

  • Conhecidos e relacionamentos de longa distância;

  • Cada pessoa tem pouca redundância de conexões;

  • A informação se propaga rapidamente — mas não necessariamente a persuasão final.

Quando e como usar “laços fracos”

A Teoria dos Laços, explica o sucesso e o papel insubstituível de uma estratégia de comunicação centrada em Whatsapp e comunidades em redes sociais, como grupos de Facebook. A maior parte das pessoas nos nossos contatos de Whatsapp e em boa parte dos grupos dos quais participamos são, certamente, conhecidos casuais: justamente nossa fonte para novas ideias e informações. Por isso, também, a transmissão de notícias falsas é tão eficiente por meio desses canais.

Nas etapas de alcance e consideração, ou seja, quando queremos fazer ideias novas chegarem a um público que não as conhecem, o trabalho de base - seja ele por meio de estratégias de microinfluenciadores ou no diálogo nos grupos próximos - é fundamental.

Top 5 para lembrar sobre os laços fracos

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Conectam diferentes grupos informacionais e são bons para furar a bolha.

Podem ser estratégicos nas fases de alcance e consideração para novas ideias e narrativas, quando queremos que novos grupos tomem contato inicial com alguma pauta.

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São acionados por estratégias de comunidades, stories e compartilhamento em Whatsapp.

Em Instagram, TikTok e Facebook, também podem ser acionados com estratégias de microinfluenciadores regionais e nichados, ou seja, criadores de conteúdo com “poucos” seguidores mas que são de alguma forma referências em suas comunidades (geográficas ou virtuais).

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O trabalho de base, comunitário, também aproveita o poder das relações casuais para a comunicação de causas.

Quando e como usar “laços fortes”

Essas são as relações marcadas por interações frequentes, altos níveis de confiança e reciprocidade. É o tipo de relação que temos com nossos familiares e amigos íntimos.

Essas conexões são mais eficientes na fase de mobilização para ação. São as opiniões delas que consideramos para decidir se vamos ou não participar de uma manifestação ou se vamos ou não doar para uma causa ou uma campanha, por exemplo.

Também são essas as relações que garantem apoio próximo - seja emocional ou financeiro - em momentos sensíveis ou vulneráveis, e isso também vale para violência ou opressão por conta de contextos políticos. 

Top 3 para lembrar sobre os laços fortes

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São as relações baseadas em confiança, proximidade e frequência e são as melhores para estimular ações que demandam esforço maior.

São estratégicas nos momentos de ”conversão” das campanhas, quando precisamos que a audiência efetivamente consolide uma mudança de opinião, participe ativamente de movimentos ou faça doações.

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Podem ser acionados em estratégias específicas de Whatsapp e comunidades como um todo, especialmente focadas em grupos de amigos e família.

Se as trocas com laços fracos são o toque de bola que leva o time do meio de campo pra grande área, as mensagens transmitidas pelos laços fortes são o chute final para o gol. Ou seja: é preciso considerar que cada tipo de relação tem seu papel em uma estratégia.

NOTAS FINAIS

The Snowball Effect, Hidden Brain - o episódio The Snowball Effect, do podcast Hidden Brain, traz alguns dos conceitos que discutimos aqui conectados a pesquisas de outros acadêmicos que demonstram como diferentes tipos de laços sociais impactam em efeitos de viralização e “sucesso” de uma ideia ou conceito. Vale muito a pena escutar!

Fontes: